Cultura

06/07/2017 Sábado tem Cliver Honorato no Festival de Inverno de João Monlevade

Foto: Iaci
Foto: Iaci

 

O cantor, compositor e instrumentista Cliver Honorato, de Belo Horizonte, se apresenta no próximo sábado (8), na segunda edição do Festival de Inverno de João Monlevade. O evento que teve início no dia 1º, terá seu encerramento no prróximo sábado com apresentações artísticas e feira de gastronomia e artesanato, na Praça 7 de Setembro, a partir das 14 horas.

O ARTISTA
Cliver Honorato é cantor, compositor e instrumentista. Sua dedicação à música remonta o final da década de 1990. Agora, em 2017, se prepara para o lançamento de seu primeiro disco, que vem sendo lapidado há dois anos.

Não é exagero dizer que a música corre pelas veias de Cliver: seu avô, Joel Honorato, foi músico, com forte influência no samba, em Belo Horizonte na década de 1960. Sob a influência do patriarca, aprendeu sozinho as primeiras notas de violão no início da adolescência. Aos 15 já se apresentava pelos bares da capital. De lá pra cá transitou pela Fundação de Educação Artística (FEA) e Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). O artista tem se dedicado ao estudo musical desde 2003.

O músico produziu a trilha sonora do curta Ingrid, de 2016, com participação em festivais nacionais e internacionais, e concorreu como Melhor Trilha Sonora no importante Festival de Gramado. Ainda no campo do cinema, foi um dos personagens do documentário O som da cidade, de 2015.

Cliver integrou a programação, em 2014, do Savassi Cultural. No ano anterior realizou show de pré-produção do seu primeiro disco na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes. Na mesma instalação já havia se apresentado em 2010, ao lado de Janaína Assis, em show de canções próprias, e em 2009, como arranjador e violonista, no lançamento do CD Poetizar, de Ian Oliveira. Também dividiu palco com Gilvan de Oliveira, em 2003, durante o Festival Conexão. Em sua trajetória musical transitou principalmente pelo rock, pelo jazz, pela bossa-nova e pelo samba.

Depois de longa preparação, Cliver Honorato lança seu primeiro disco.
Por Alex Bessas:

Não espere escutar aqui o som geracional do que vem sendo chamado de Nova MPB. A música de Cliver Honorato é ressonância da MPB clássica, da bossa-nova, do samba tradicional.

Resultado de longo trabalho de lapidação das canções, investigação de arranjos e melodias, organização espacial das músicas, tudo foi pensado de forma meticulosa, cuidadosa. A capa, por exemplo, não traz uma foto do músico - como é comum em álbuns de estreia. Daniel Bretas, o artista que a desenhou, quis dialogar com a simplicidade e sofisticação musical que Cliver Honorato propõe.

Na arte vemos o encontro de cores frias e quentes que ao se encontrarem descobrem o meio termo. Na música estão os amores e desencontros, as madrugadas e o sol, o outro e o eu, o diálogo direto com o ouvinte/confidente e a ironia. O conjunto da obra mantém a dualidade: Cliver é denso e sútil.

MÚSICA A MÚSICA
No disco de estreia de Cliver Honorato nada é por acaso. Antes que chegue outro alguém abre o álbum já nos colocando ao lado do músico. Afinal, “estamos no mundo/lançados a sorte”. Com introdução lenta, explorando arranjos elaborados, a música brinca com fim entusiasmado. Fica o convite que ultrapassa os barreiras de tempo-espaço para ganhar quem o ouve. “Vem e me faça acreditar/em um motivo pra se sonhar”. Nós, é claro, vamos!

O disco segue explorando sonoridades brasileiríssimas. Com jeito de sambinha à la Jobim, Cada qual no seu lugar talvez seja a composição que mais demarca a chegada do músico. Ferido, sangrando, ele avisa: “to chegando, to chegando”. Antes disso, claro, põe cada um no seu lugar e nos coloca a espera do que vai acontecer. Cliver sabe que quem se expõe vai ser empurrado daqui, puxado dali e que sorte nesse jogo é fundamental. Mas ele só quer cantar. “Largue agora a minha perna!”.

Na sequência Miragem embalado por um samba de guitarra. Tudo bem, “aqui não há sereia/aqui não é beira de mar”, mas “em noite de lua cheia/o bom é naufragar”. Envolvidos que já estamos, nos deixamos levar. Mergulhamos nas águas mais profundas que a voz de Cliver está disposta a nos levar.

E se a promessa era um mergulho, ele vem com cara de sertão. O som árido cercado pela saudade, pelo cimento, é inspirada em uma música de roda: a melódica Fonte da tristeza veio de Tororó. Nela a solidão também é cantada com beleza e simplicidade, sem por isso perder sua força, sem jamais perder sua dor.

Do estar só, Cliver transita para a madrugada. Talvez, pela madrugada. Ao seu dispor canta uma certa reclusão, uma certa boêmia. “Não a nada que me encante/ se a noite acabou”, lamenta delicado aos que o entenderam.

Feito Vírus é música de uma melodia bem arranjada. É ao mesmo tempo roteiro de um amor que deixa suas marcas, cicatrizes, tatuagens e diálogo do músico com seu ouvinte, com seu confidente. “Você entrou em mim”, canta, com suavidade. O recado é também para quem o ouve. A mensagem é também sobre como, ao cantar para nós, Cliver se entrega, permite-nos enxergar até suas vísceras.

Ácida crítica, carregada de ironia, Obrigado NY é uma reflexão sobre o Deus mercado. Sutil e politizada, a composição ganha um coro de vozes e nela se destaca a voz de uma criança. Todos parecem honestamente agradecidos pois, ora, a bolsa subiu. O menino, todavia, não deixa dúvidas com um tímido riso ao final.

Cliver volta a nos brindar com um som com jeito de sertão em Madrugada. Oitava música do disco, avisa que já é quase hora de ir, mas que também já vem chegando a hora de regressar. Cheia de quases, a música também dá ideia do que faz o disco ser uma unidade: acontece que o compositor, instrumentista e intérprete dialoga com a dualidade em todo trabalho. Passa pelo sol e lua, pela manhã e noite, pela saudade e pelo reencontro.

Com jeito meio circense, o músico nos apresenta Desumano. A melodia que embala a composição, como tudo neste disco, não foi escolhida à toa. Ela faz todo o sentido e nos remete ao cinema, às histórias de espetáculos de circo que expunham pessoas como aberrações e ainda nos propõe uma visão moderna do ver o diferente. A sutileza do seu jeito de cantar torna tudo mais palatável. A mensagem, no entanto, é poderosa.

“Vem cá/que eu quero teu colo/brindar nosso novo encontro”. É assim que a bossanova de Reencontro nos ganha em seus primeiros versos. A essa altura Cliver volta a nos convidar para estar com ele. A música mantém o jeito de quem narra um amor perro, um amor vagabundo. “Espero que seja como ontem/em meio a promessas/ de não vir novamente/amanhã me apareça”, canta em dualidades que só cabem em uma boa história apaixonada. Depois, bem, “depois/se quiser me esqueça”.

Uma mixagem quebra o estilo quase artesão do disco. O músico ousa parecer dissonante na última faixa. É que, como já foi dito, nada neste disco é por acaso. Todas as histórias é recitada e é provocativa. A música não caberia em outro lugar. Precisava estar ali para fechar o disco. O último carro alegórico da passarela é honesto. Quando tudo é silêncio, sobra a voz de Cliver em um matador “e você pensou que ia escutar algo novo por aqui?”.

Clique aqui e conheça mais sobre o trabalho do artista belo-horizontino.

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