Beleza & Bem Estar

20/04/2022 Os perigos para a saúde escondidos nos chás naturais e emagrecedores

Endocrinologista explica sobre os riscos de produtos vendidos sob a égide do

Consideradas inocentes e naturais quando o assunto é emagrecimento e bem-estar, muitas ervas podem representar risco para a saúde humana quando consumidas indiscriminadamente. Na busca pela perda de peso, uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mostrou que quase 20% das pessoas que tentaram emagrecer sem orientação médica recorreram ao uso de “substâncias naturais”, entre elas os chás emagrecedores.

A alta taxa de adesão a tratamentos dessa natureza, segundo a endocrinologista da Rede Mater Dei de Saúde, Patrícia Corradi, se dá pelo fato de o uso de substâncias com princípio ativo “natural” ter forte apelo midiático e o comércio de chás se fazer cada vez mais lucrativo com a promessa de emagrecimento. “No entanto, cabe uma atenção especial ao fato de que ser natural não significa, necessariamente, estar isento de riscos. Menos ainda, que será eficiente para qualquer pessoa”, alerta.

A maioria das cápsulas e misturas de chás ofertadas no mercado como emagrecedoras naturais não especifica as dosagens das ervas, o que pode impactar drasticamente órgãos como fígado, rins e até o coração. O fígado acaba sendo o principal atingido porque é responsável por metabolizar grande parte do que consumimos. Na ‘mistura milagrosa’, que grande parte das pessoas não sabe como foi manipulada, podem estar substâncias ainda mais nocivas, como os chamados termogênicos, que prometem acelerar o metabolismo para queimar gordura, ou até drogas que podem causar arritmias.

“A ausência de supervisão de órgãos da vigilância sanitária, a falta de padronização de doses e, ainda, a ação sinérgica de compostos diferentes em pré-misturas elevam a chance de efeitos colaterais muitas vezes nocivos à saúde”, ressalta a médica.

Impactos no organismo - De acordo com a endocrinologista, os riscos à saúde mais comumente encontrados estão relacionados exatamente às propriedades que as pessoas buscam nessas substâncias – redução de apetite; o fato de serem diuréticas; controle da taxa de açúcar no sangue, entre outras. Patrícia dá exemplos dos impactos no organismo que o exagero no consumo de chás dessa natureza pode causar.

“Chás que têm efeitos diuréticos e laxativos podem levar à desidratação, perda excessiva de água e deficiência de minerais (sódio, potássio, magnésio, cálcio), que são conhecidos fatores de risco para insuficiência renal aguda e arritmias cardíacas; já as ervas que prometem controlar a glicose e o diabetes podem provocar hipoglicemia, que é a queda do açúcar no sangue a níveis tão baixos que comprometam o funcionamento neurológico do paciente e aumentam o risco de queda por perda da consciência. Os chás que prometem aumentar o metabolismo ou estimular a quebra da gordura podem gerar metabólitos nocivos ou conter substâncias tóxicas ao fígado e ao rim, sobretudo em indivíduos que já façam uso de alguma medicação controlada”, exemplifica.

Em fevereiro deste ano, uma enfermeira de 42 anos, de São Paulo, morreu após consumir um composto que misturava cerca de 50 ervas. Ela teve uma hepatite fulminante. Logo após o episódio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a comercialização de 150 produtos naturais que prometiam emagrecimento fácil.

Segundo Patrícia Corradi, o consumo de chás é uma prática milenar e não deve ser desencorajada. “Em pequenas quantidades e sem um fim medicinal específico, os riscos são potencialmente baixos e suas propriedades já conhecidas - e testadas - desde a época dos nossos avós podem, sim, ser benéficas à saúde, dentro de um contexto nutricional adequado e individualizado. Para quem quer e precisa perder peso, o recomendado é procurar um médico ou nutricionista, pois há tratamentos seguros e eficazes para esse fim. A população não deve se medicar por conta própria ou adquirir medicamentos duvidosos, sem registro devido”, complementa Patrícia.


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