Identificação da doença vai além da hiperatividade e é importante obter informações de pessoas que convivam com o paciente
Quando se fala em Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) logo se pensa em crianças agitadas e que não conseguem permanecer muito tempo concentradas nas tarefas escolares ou de lazer. No Ambulatório de TDAH do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), são atendidos cerca de 50 pacientes por mês. Mas todo cuidado é pouco para não errar no diagnóstico, já que muitos jovens acabam sendo diagnosticados simplesmente por serem mais agitados que os outros. Em todo o mundo, somente cerca de 5% da população possui TDAH.
De acordo com a neuropediatra do HIJPII Mona Lisa Trindade, em geral, esse processo exige mais que uma consulta. “Precisamos ter informações de pessoas que convivam com o paciente em seus diversos ambientes - casa, escola e outras atividades. A entrevista com ele e a família deve ser minuciosa, para não confundirmos o quadro com outras condições. Definido o diagnóstico, na maioria das vezes haverá indicação de uso da medicação. Mas se o quadro for leve, ou se houver dúvida, o ideal é iniciar a terapia com os psicólogos e fazer uma reavaliação do caso antes de começar com o uso de medicamentos”, explica.
Segundo a psicóloga clínica do HIJPII, Tarcia Regina Coura Dutra, na psicoterapia destaca-se o “Treinamento de pais". “Ensinamos estratégias eficazes para lidar com as crianças, auxiliando-os a gerenciar o estresse e a sobrecarga. Além disso, oferecemos um suporte emocional para os pacientes, trabalhando as suas disfuncionalidades”, explica. Ela ressalta ainda a importância do ambiente familiar em que a criança está inserida. “Algumas vezes, o TDAH pode estar associado à falta de afeto ou a um cuidado desequilibrado ao longo da vida. Por isso, quanto mais estruturado e flexível for o contexto familiar, melhores resultados serão alcançados”.
Compreensão
Além dos já citados sintomas de desatenção e hiperatividade, o transtorno pode gerar, ainda, impulsividade (a criança interrompe os outros, tem dificuldade para esperar sua vez, dá respostas precipitadas) e esquecimento (perde materiais escolares, esquece onde guardou objetos, não passa recados). Por isso, o diagnóstico, além de ser importante para iniciar o tratamento adequado, é essencial para que os responsáveis não achem que a criança está agindo propositalmente.
“Crianças com TDAH têm dificuldade para se concentrar e ficar quietas por muito tempo. Respeitar essas limitações é fundamental. Os pais e a escola devem sempre priorizar o que é mais importante e relevar os pequenos erros por desatenção. O objetivo deve ser que a criança se envolva no processo de aprendizagem e se sinta motivada, pois a motivação é um fator muito benéfico para a concentração”, aconselha a neuropediatra.
Segundo ela, o tratamento adequado do TDAH é fundamental para permitir as condições ideais de desenvolvimento para a criança. “Organização do tempo e execução das atividades escolares também pode ser necessário. Se os cuidadores não ‘levam jeito’ para isso, o ideal é pedir uma outra pessoa, de preferência um profissional da educação, para acompanhar essas atividades. Também é importante possibilitar a prática de atividades não acadêmicas, como exercícios físicos. Educação musical e artística são ótimos exemplos de estimulação”, indica Mona Lisa.
Pandemia
O isolamento social, durante mais de um ano, em decorrência da pandemia da covid-19, pode ter contribuído para o agravamento do TDAH em muitos casos, especialmente nos pacientes com sintomas de hiperatividade, já que as atividades físicas e ao ar livre ficaram mais restritas.
A neuropediatra chama atenção, especialmente, para o uso excessivo de telas. “Todos nós abusamos desse recurso durante a quarentena. Mas já é hora de nos policiarmos em relação a isso. É necessário minimizar ao máximo a utilização de celulares, tablets, televisões, que são comprovadamente prejudiciais ao desenvolvimento infantil, quando em excesso ou de forma inadequada. Lembrando que crianças copiam hábitos dos adultos. Então, não adianta proibir e continuar fazendo uso excessivo”, orienta a neuropediatra.
Para os pais que optaram por manter a criança em casa, mesmo após o retorno das aulas presenciais, algumas estratégias podem ajudar na hora de realizar as atividades escolares. “Ter um adulto ao lado da criança, auxiliando na concentração, e permitir que ela tenha um descanso quando estiver dando sinais de desatenção, ajuda. Uma redução no número de atividades e um tempo maior para sua realização pode ser o ideal”, conclui Mona Lisa.