O Festival Unificado da Consciência Negra, criado em João Monlevade em 2019 por diversas entidades, grupos e produtores culturais, chega à segunda edição. Este ano, os organizadores definiram o tema “Tecnologias Negras, Territórios Múltiplos” para nortear os eventos e prestam homenagens póstumas a duas personalidades negras: Nilza Roberto, matriarca da família Roberto, rica em artistas e referência na cidade e na região, e ao músico paulista Itamar Assumpção.
Segundo os organizadores, em texto no site do Festival, o tema escolhido para esta edição “toca em questões fundamentais para nossa sociedade”, e embora, para o senso comum, hoje o termo “tecnologia” praticamente se confunda com o mundo digital, é necessário explorar um sentido.
Recorrendo ao pensamento do músico e filósofo baiano Tinganá Santana, defendem que “também práticas e saberes ancestrais, inclusive línguas das mais distintas culturas, são dispositivos técnicos, tecnologias”. E complementam: “assim, há tecnologias negras, tecnologias indígenas, ricos e complexos etnosaberes”.
Já na justificativa dos nomes escolhidos para homenagem, os organizadores dizem que as personalidades escolhidas “intercruzam tradição e cultura contemporânea”.
Nilza Roberto (1932-2016) irmã mais velha da cantora Neide Roberto (1943-2009) e tia do músico Rômulo Rás e do artista plástico José Ricardo, foi a primeira secretária do Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade (Sindmon-Metal), desde sua criação, em 1951. Ela estava na sede entidade quando houve intervenção do governo militar, em 1964, com prisão de dirigentes sindicais.
O outro homenageado, Itamar Assumpção (1943-2009), foi um dos representantes da chamada “vanguarda paulista”, movimento de artistas que agitaram a cena musical de São Paulo, capital, na primeira metade dos anos 1980. Eles misturavam elementos populares com experimentos de música erudita contemporânea. Este ano foram colocados em plataformas de streaming todos os 12 discos do artista, como parte das celebrações de seus 70 anos, que ele completaria em 2019.
União
O Festival Unificado da Consciência Negra é uma realização da Associação Cultural de João Monlevade (Congado São João Evangelista), Associação Cultural Navio Negreiro (Anan), Associação Monlevadense de Afrodescendentes (Amad), Pastoral Afro Montfortina, coletivo Salve Pretitude, Projeto Saberes Urbanos (professores e alunos da Uemg), Sindicato dos Metalúrgicos de João Monlevade (Sindmon-Metal) e dos produtores culturais Andrea Abade (da Gata na Tuba Cultural) e Wir Caetano (da Dabliê Texto Imagem e da FAMA – fábrica monlevade de artes).
Ao ser idealizado, no ano passado, o objetivo principal foi dar mais visibilidade a ações que eram realizadas de forma isolada por entidades. Essa articulação é entendida pelos organizadores como fundamental para celebrar o Mês da Consciência Negra e combater o racismo no país.
Informações sobre os eventos podem ser encontradas no blog do festival ou no Instagram.