Economia

02/04/2017 Mineração inicia retomada com promessa de contratações

No começo do ano passado, a tonelada do minério de ferro custava cerca de US$ 40. Agora, está entre US$ 85 e US$ 90. A valorização é um indício de que o ano será muito melhor para a mineração. Por enquanto, os investimentos estão no campo das expectativas, e os empregos, no campo das promessas. No entanto, já existe uma forte movimentação entre os fornecedores da cadeia sinalizando que tem fogo, e não apenas fumaça. São mais pedidos de orçamentos para serviços que, junto com contratações de executivos do ramo, dão fortes pistas de que a retomada do setor começou.

Depois de um 2016 praticamente sem serviço, o sócio da empresa de manutenção de máquinas e equipamentos de mineração Transparts Márcio Lacôrte começa a ver sinais de melhora. No ano passado, uma mineradora da Bahia, para quem ele prestava serviços teve sérios problemas de caixa, mas, mesmo sem receber, ele decidiu manter o fornecimento. “Eles atuam em uma mina subterrânea de cobre, e uma chuva inundou os equipamentos. Mesmo sem receber, decidi continuar fornecendo, demos um jeito para custear a logística das máquinas da Bahia para Minas. Foi uma aposta arriscada, em um ano desaquecido. Mas, agora, a empresa foi comprada por uma canadense, voltou a investir. Está me pagando os atrasados, e consegui um contrato grande”, conta Lacôrte, que enxugou o quadro de funcionários de 60 para 20 em 2016.

“Algumas empresas que pediram orçamento no ano passado voltaram a nos procurar. Uma empresa do ramo de ferrovia também solicitou orçamento, o que é um ótimo indício, pois, se estão investindo na ferrovia, é porque vai ter minério de ferro para ser transportado”, avalia.

Renato Tameirão é dono da RT Inox, que comercializa tubulações, conexões, chapas e várias peças de ferro e aço. Em 2016, quase não prestou serviços, mas agora está vendo o cenário mudar. “As mineradoras estão começando a dar o ar da graça. Ainda não assinei nenhum contrato, mas o volume de pedidos de cotação dobrou em relação ao mesmo período do ano passado”, diz.

A procura por gestores na área é outro indicativo de retomada. Tameirão, por exemplo, trabalhou durante 28 anos na gestão de suprimentos de uma grande mineradora. “Tenho recebido e-mails de empresas de recrutamento, chamando para seleção”, conta.

Embora os investimentos estejam só na fase dos anúncios – como, por exemplo, a expectativa pela retomada das operações da Samarco e pela reabertura da mina Morro do Ipê, em Brumadinho e Igarapé –, as contratações de executivos já são realidade. “Só nestes primeiros três meses, a quantidade de vagas ofertadas para níveis gerenciais no segmento da mineração cresceu 66% em relação ao mesmo período do ano passado”, afirma o sócio-diretor da empresa especializada em gestão de capital humano Upside Group Bruno da Matta Machado.

“Tivemos dois anos de baixas contratações. Mas estamos vendo o setor voltar a se munir de pessoas para uma reestruturação. Já no chão de fábrica, a geração de empregos costuma vir depois, quando o nível de produção aumenta”, explica.

Remuneração está 24% maior agora
O setor de mineração voltou a se destacar na oferta de vagas, e, segundo o sócio-diretor da Upside Group Bruno da Matta Machado, a remuneração média está 24% maior em relação a 2016. “As empresas fizeram um processo de ‘juniorização’ porque ficaram menores. Isso começa a mudar, pois elas precisam voltar a contratar gestores sêniores”, ressalta Machado. Segundo ele, a oferta atual é para cargos como diretor de operações, gerente geral, vice-presidente de geologia e exploração, engenheiro de segurança de produção e do trabalho e supervisor de barragem.

Demanda mundial também cresceu
O diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Marcelo Ribeiro Tunes, lembra que, em 2016, o preço da tonelada de minério de ferro chegou a US$ 38,50. Hoje, na casa dos US$ 85, a tendência é de um ano bom. Além dos preços, puxados por um aumento de demanda mundial, outros indicativos sinalizam a recuperação da mineração. “Neste ano, a Exposição Internacional de Mineração (Exposibram) acontecerá em setembro, em Belo Horizonte. Ainda nem estamos divulgando, mas já vendemos 60% dos estandes”, afirma Tunes.

Além da volta da demanda da China, ele lembra que outros países têm comprado minério de ferro, como a Indonésia e a Índia. “Mesmo que não comprem diretamente de nós, acabam abrindo espaço para o Brasil vender. Saímos do fundo do poço e estamos galgando lentamente, mas de uma forma consistente”, destaca.
Participação de Minas (2015)
R$ 67 bi total da produção mineral comercializada no país
R$ 32,8 bi total da produção mineral comercializada por Minas

(O Tempo)

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