O assunto em pauta é a segurança pública no município de João Monlevade. Como é de conhecimento de todos, vivemos graves momentos de insegurança, especialmente nos arredores das escolas públicas e particulares que nós, alunos, professores e demais funcionários da educação freqüentamos todos os dias. Há, também, problemas de insegurança em vários outros locais da cidade, mas esse texto é para deixar uma mensagem de reflexão sobre o que vem ocorrendo nas proximidades da Doctum e da Uemg, locais preferidos pelos marginais que nos tem tirado a paz.
No ano passado, na Doctum, assistimos chocados à morte de um bandido que tentou roubar a moto de um policial, estudante nosso, que reagiu em legítima defesa. Muita gente comemorou a morte de um bandido, menor de idade, inclusive. Eu fiquei boquiaberto. Não só eu, mas muitos professores e alunos, pela forma gratuita com que a violência se aproxima da gente.
Este ano, as notícias de assalto voltaram a pipocar no entorno das faculdades tão logo o ano letivo começou. Recentemente, um marginal levou a moto de um aluno da Doctum. Foi perseguido pela polícia, sofreu acidente no centro da cidade e morreu. No ponto de ônibus em frente à escola, uma de nossas alunas teve a arma de um bandido apontada para a cabeça. Teve seus pertences e o celular levados. Outros três marginais fizeram um arrastão nas proximidades da Doctum e levaram os aparelhos celulares de seis estudantes que iam tomar o ônibus de volta para a cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo após um cansativo dia de aulas. Na semana passada, mais um episódio de violência gratuita: um aluno nosso levou um golpe de faca no rosto dado por um dos dois marginais que levaram dois telefones celulares que estavam com esse aluno.
Todos, sem exceção, ficamos muito assustados, pois na Uemg também há notícias de assaltos frequentes. E os bandidos estão tão audaciosos que levaram até as duas rodas do carro de um aluno que havia estacionado numa estreita rua ali perto. A última notícia de assalto a um estudante é bem recente: aconteceu na última terça (5), na Rua Louis Ensch, no bairro Alvorada, região central da cidade. É por essas e outras que me pergunto: quem será a próxima vítima? Lamentamos esses ocorridos por enquanto, felizmente sem inocentes vitimados fatalmente. Mas tenho certeza que nenhum dos senhores vereadores, e nenhum cidadão de bem quer lamentar a morte de um trabalhador, de um estudante, de alguém que está em busca de um futuro melhor, morte essa que será provocada apenas para sustentar o vício das drogas ou alimentar esse câncer social denominado tráfico de drogas.
Temos conhecimento de que movimentos estão sendo feitos para tentar coibir a ação de bandidos em nossa cidade ainda que não suficientes! Porém, as polícias, mesmo com toda dificuldade de infraestrutura e falta de pessoal, tem feito seu trabalho, assim como os vereadores dessa casa e diretores da Doctum e da Uemg têm promovido reuniões com autoridades públicas para discutir esse problema. Na última terça, tivemos uma reunião da qual participaram alunos, professores, diretoria corporativa e regional da Doctum, vereador Fabrício Lopes e a autoridade máxima do nosso Executivo Municipal, o senhor prefeito Teófilo Torres. Durante o encontro, o prefeito se demonstrou preocupado, mas colocou a questão da dificuldade financeira enfrentada hoje pelo município em função da crise econômica brasileira. Prometeu, na medida do possível, melhorar a iluminação no entorno das escolas, podar árvores que provocam sombra nos postes e instalar uma câmara de segurança em frente ao Posto de Saúde do bairro Vila Tanque, onde um de nossos alunos levou um golpe de faca.
A polícia, por sua vez, também ouvida e consultada por representantes da Doctum, falou das dificuldades enfrentadas, tanto em termos de infra-estrutura quanto em contingente de Recursos Humanos para dar conta de tanta demanda. A isso, somam-se as barreiras legais que, infelizmente protegem menores infratores que são capazes de atrocidades às vezes muito piores das que as praticadas por um adulto. As polícias também deram dicas importantes de segurança, como não reagir a assaltos, não frequentar locais ermos, muito menos exibir valores em público, como o telefone celular. Pelo visto, cada um tem um dever de casa a cumprir. Mas a pergunta que fica é: só isso é suficiente?
Faço essa pergunta porque segurança pública é muito mais que ações corretivas e preventivas de curto prazo. E o que se assiste em João Monlevade é justamente isso: quando a situação da segurança piora, as discussões são retomadas. E os discursos são lindos, de todos os lados. Mas e as ações concretas para tornar a segurança uma constante em nossa sociedade?
João Monlevade completa, no próximo dia 29, 52 anos de emancipação político-administrativa. E esta cidade é o local onde nasci, cresci e escolhi para viver e trabalhar. Tenho 34 anos e sempre tive a impressão de ser esse município um local ordeiro e acolhedor. Mas, nos últimos tempos, manchetes como “Uma cidade amedrontada” tem traduzido o temor que temos vivido, dia e noite. Já tivemos comerciante assassinado em seu estabelecimento em pleno dia!
Quando isso tudo vai acabar? Não sou especialista em segurança pública, mas minha experiência acadêmica me dá uma noção de como esse problema deve ser combatido: com um plano de desenvolvimento a longo prazo, com ações emergenciais, mas outras que só vão surtir efeito daqui a algum tempo. E nessas minhas pouco mais de três décadas de vida, nunca ouvi falar em Monlevade da existência de um grupo oficial suprapartidário, com representação das mais diversas camadas sociais, engajado a promover o desenvolvimento do município, com ações que reflitam em mais saúde, mais emprego, mais educação, mais saneamento, mais ordem social, entre outros fatores que direta ou indiretamente vão gerar uma cidade mais segura.
O que se percebe é que ao longo do tempo Monlevade teve uma fase de sua vida política de estruturação urbana, que passa desde os nossos saudosos ex-prefeitos Wilson Alvarenga, Germin Loureiro (Bio) e Leonardo Diniz, sem deixar de mencionar o nosso respeitoso Antônio Gonçalves, com o qual ainda temos o privilégio de conviver. Foram políticos de uma era em que garantiram que João Monlevade fosse o que é hoje, mas e atualmente? O que os políticos de hoje fazem para o futuro? Do fim da década de 90 pra cá, coisa de quase 20 anos, João Monlevade parece que parou no tempo. Não que nossos políticos das duas últimas décadas não tivessem ou não tenham importância, mas Monlevade parece seguir como um barco à deriva, sem rumo. É uma ação aqui, um projeto ali, que às vezes dá certo ou não, mas nada devidamente estruturado. Tudo parece girar em torno da oportunidade que, muitas vezes se traduz em fazer apenas na época da campanha eleitoral.
Isso faz com que nossa população viva à espera de um salvador que nem temos noção de quando e como vai chegar, isso se chegar! Viveremos à espera de um milagre? Acredito não ser essa a corrente mais inteligente. Temos que retomar as rédeas do desenvolvimento com pessoas comprometidas a sair da esfera do discurso e que estejam focadas em ações concretas que garantam uma cidade melhor para se viver em todos os sentidos, principalmente no quesito segurança pública.
E um bom lugar para se começar isso, é nas próprias universidades que aqui temos. Doctum, Uemg e Ufop podem abrir suas portas para a realização de projetos simples, mas que impactam positivamente sobre toda a sociedade. Mas projeto demanda dinheiro, certo? Nem sempre! Demanda força de vontade e inteligência para fazer muito com pouco. Nós, brasileiros, precisamos enterrar essa velha e estagnada cultura de apenas ficar observando... precisamos agir! E esse agir precisa partir do estímulo do poder público, pois garantir segurança é uma prerrogativa constitucional do estado. Mas é claro que a sociedade também precisa participar. É por isso que é preciso que os políticos, representantes do povo, pelo menos tentem ser os condutores desse processo. Só assim teremos a cidade que sonhamos, no momento em que criarmos a consciência coletiva de que todos podemos agir.
Precisamos de ruas mais iluminadas? Sim, precisamos! Necessitamos de mais polícia nas ruas? Sem dúvidas que sim! Precisamos de vigilantes, de guarda municipal, de câmaras de segurança? A resposta também é sim! Mas acima de tudo precisamos de mais escolas integrais e projetos sociais para tirar nossas crianças e jovens das ruas. Precisamos de mais áreas de convivência no espaço urbano, precisamos de um trânsito mais humano, precisamos de mais planejamento, a ponto de garantir um policiamento mais focado na inteligência, porque a polícia ideal é aquela que consegue se antecipar ao criminoso.
Antes de concluir, convém enfatizar aqui que a Segurança Pública é direito do cidadão, é requisito de exercício da Cidadania. E não se pode viver a cidadania sem a solidariedade. Uma sociedade que se funde no “espírito de solidariedade” procurará construir modelos de convivência que afastem o medo do horizonte permanente de expectativas. Numa sociedade fraterna, o homem não será “lobo” do outro homem.
Nossa Constituição determina que a Segurança Pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. Será exercida para a preservação da ordem pública e da proteção das pessoas e do patrimônio.
É por isso que não podemos nos render ao medo e estamos aqui para dizer à bandidagem que somos um grupo de cidadãos comprometidos a não deixar que a paz e a ordem social dêem lugar ao caos, principalmente na porta de nossos educandários. Nas palavras da professora monlevadense Eliane Aparecida de Souza, “uma cidade que não ama e resguarda suas escolas, compromete o futuro de gerações”. É isso que pedimos: guardem nossas escolas, nossos estudantes, nosso futuro! E repito: nossas faculdades estão de portas abertas para contribuir para a manutenção de uma Monlevade ordeira. Contem conosco!
(*) Texto escrito por Breno Eustáquio da Silva. Professor com mestrado em Administração, especialização em Gestão Organizacional e graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Leciona a quase 10 anos na Doctum (antiga Funcec), além de trabalhar como professor na Uemg/Monlevade desde o ano passado. Atuou 14 anos em mídia impressa em Monlevade e região.