Opinião

12/03/2016 É urgente resgatar a utilidade da Política

Ulisses Nascimento, Jornalista e especialista em Marketing Político
Ulisses Nascimento, Jornalista e especialista em Marketing Político

Lava-Jato, Zelotes, Acrônimo, Catilinárias, Cérberus, Chicana, Aletheia, Corsário. Petrolão, delação premiada, habeas corpus, embargos de declaração. As operações da Polícia Federal, o escândalo mais comentado nos últimos meses, os termos jurídicos mais publicados. São essas as palavras mais lembradas quando alguém fala de Política no Brasil. Uma pena. O roteiro é conhecido: alguém lembra que é ano eleitoral e começam as reclamações. Muitas delas são justas, claro. Mas, uma série de clichês são despejados sobre a mesa e é justamente sobre eles que pretendo refletir.

"A política não presta", "Política? Só tem ladrão e gente que quer se aproveitar do povo", "Eu nunca me envolvi com política, não quero saber nada sobre isso". Quem nunca ouviu / leu uma frase desse tipo, seja na mesa de bar ou nas redes sociais? Esse pensamento é muito perigoso. Desacreditar uma atividade tão importante e presente em nosso dia a dia não nos leva a lugar algum. A política, definitivamente, está em tudo: em casa, quando você conversa com seus familiares sobre o almoço ou como administrar as contas da casa, na reunião da comunidade para discutir os problemas do bairro, no bate-papo descontraído com os amigos, no encontro semanal com pessoas da mesma religião.

Acreditar na opinião, repetida muitas vezes por quem foi eleito para exercer cargos públicos há muito tempo e não tem lá um bom histórico - dinheiro não declarado em paraísos fiscais, processos e mais processos por conduta inadequada e por aí vai... - de que "a política não presta e não há nada que possa ser feito para melhorar" é entregar a faca e o queijo para quem ocupa o poder - ou deseja ocupá-lo um dia - e faz dele um balcão dos mais desonestos negócios. Esse é mais um dos mitos que faz parte da cultura brasileira e que, infelizmente, contribui para o estado de coisas visto hoje.

O cientista político Paulo Corrêa, no ótimo livro Conquista, consolidação e ampliação do Poder Político, escreve que a política é útil. Exato!. É urgente resgatar a utilidade da Política. É por meio dela que podemos lutar por uma sociedade mais justa, com mais oportunidades, por saúde, educação e segurança pública de qualidade, só para citar alguns pontos.

O ataque à política é fruto de um "jeitinho" verde e amarelo que se entranhou na nossa cultura: a mania, tipicamente brasileira, de transferir responsabilidades quando as coisas não andam. Quer um exemplo diretamente ligado ao que discutimos nesse texto? Quantas vezes já foi dita a frase : "é tudo culpa dos políticos"? Ora, políticos somos todos nós. É isso mesmo. Ninguém vem de Marte ou de qualquer outro planeta a cada dois anos para disputar eleições. Por mais óbvio que isso seja, nem todos se dão conta. Quem se candidata a cargos públicos faz parte de um grupo social, está na comunidade. É o colega de trabalho, o vizinho, a tia de um conhecido, o pipoqueiro, a salgadeira, o dono da padaria da esquina, a vendedora da loja, o amigo do futebol.

São pessoas da sociedade que ocupam os cargos de vereador, prefeito, deputado, senador, presidente e outras funções na administração das cidades, dos estados e do país.  Para tornar a política melhor, é preciso mudar pensamentos e atitudes. Esquecer as tentativas de "levar vantagem em tudo" e ser mais transparente, verdadeiro, ter mais respeito às pessoas, e claro, participar mais da política. Você se lembra em quem votou para vereador (a)? Tem acompanhado o trabalho dele (a)? Tem acompanhado se o (a) prefeito (a) tem cumprido as promessas feitas na campanha? Pensar que "política não presta" e ter uma postura omissa só vai piorar as coisas. Já passou da hora de mudar.

 

Por: Ulisses Nascimento, Jornalista e especialista em Marketing Político

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