Educação

30/07/2021 Como os livros ajudaram menina de 2 anos a falar palavras difíceis

Alice viralizou na internet com vídeo em que reproduz vocábulos como oftalmologista, tiranossauro rex e proparoxítona

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Um vídeo viral tomou conta da internet nas últimas semanas. A pequena Alice, de 2 anos, foi gravada pela mãe falando palavras cuja complexidade se apresenta até mesmo para os adultos. A pequena é capaz de reproduzir palavras como oftalmologista, tiranossauro rex e proparoxítona, com uma desenvoltura impressionante.

Em entrevista à BBC News, a mãe de Alice, Morgana Secco, afirmou que o processo de aquisição da linguagem de sua filha começou aos 8 meses, quando a pequena já reproduzia sons que se assemelhavam à palavra "batata". Depois, com 1 ano e 1 mês, Alice passou a repetir quase todas as palavras que ouvia em casa.

"Foi nessa hora que a gente percebeu que tinha uma facilidade com isso e que ela gostava, era algo precoce em relação a outras crianças", conta Morgana. Ela diz que sua filha completou 2 anos em meados de 2021 e ainda não frequenta a creche. Toda a alfabetização acontece nos diálogos com seus familiares.

Segundo Morgana, Alice não sabe o significado das palavras que reproduz, especialmente as mais complicadas. Mas a mãe tem feito um processo complementar ao de reprodução dos sons, para que a criança consiga também compreender o que está sendo dito.

Em um dos vídeos, a mãe pergunta a ela por que se deve comer brócolis. "Pro corpo ficar forte. Faz muito bem pra saúde", responde Alice, enquanto come o vegetal. "A gente explica quando faz parte de um contexto, mas tem umas que eu nem sei o que significam", diz a mãe.

Morgana conta que sua filha não vê televisão ou vídeos na internet. Sua rotina é baseada na interação com os pais, sobretudo com a contação de histórias. Isso é fundamental, já que a leitura infantil, ainda que promovida por um terceiro, é uma atividade que certamente vai expandir a capacidade cognitiva da criança, assim como expandir o seu vocabulário.

Pais e responsáveis têm dificuldade para encontrar obras que possam ser adequadas às crianças. Uma das soluções é aderir a clubes de livros, que podem ajudar na hora de escolher uma obra. Esses livros são escolhidos por uma equipe multidisciplinar, entre psicólogos, pedagogos e escritores, de acordo com a idade da criança.

Especialistas são unânimes quando o assunto é a importância da leitura infantil. Para a pesquisadora Luciana Dadico, doutora pelo Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), a leitura tem papel fundamental no desenvolvimento da imaginação e na questão cognitiva. “A nossa percepção cotidiana se enriquece. A gente passa a ver o mundo de maneiras novas”, disse ela em entrevista ao jornal da USP.

A professora Rochele Fonseca, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, diz que a influência dos pais e responsáveis é decisiva. “A influência ou modelagem oportunizada pelos pais ou avós é fundamental para que os hábitos de leitura e de escrita sejam experimentados, adquiridos e depois enraizados nas crianças. O livro deve ser introduzido junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer, de exploração do mundo, sendo assim emparelhado com todas as possibilidades de se divertir e de conhecer o mundo”, disse em entrevista ao site da PUC-RS.

A tese é corroborada por Augusto Buchweitz, professor da Escola de Medicina da PUCRS. “A criança, em qualquer cultura, naturalmente balbucia, engatinha, começa a andar e falar, reconhece pistas de visuais, orais que traduzem emoções, e assim por diante. Em suma, algumas habilidades se desenvolvem naturalmente; mas ler e escrever, não”, comenta Buchweitz.
Um estudo realizado no Brasil e publicado na revista científica Early Childhood Research Quarterly, dos Estados Unidos, em 2018, mostrou que, mesmo em famílias com baixo nível de escolaridade, a leitura para crianças pode ser decisiva para o desenvolvimento cognitivo e na alfabetização.
O estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Nova York foi implantado em 22 creches de Boa Vista, em Roraima, no programa Universidade do Bebê. O programa empresta livros de bibliotecas e realiza um treinamento de pais, através de workshops, para que eles possam ler em voz alta para as crianças.

Antes do treinamento dado aos pais, as crianças de baixa escolaridade pontuaram 6,74 no teste de vocabulário expressivo. As crianças de famílias com mais estudo tiraram 8,25. Após o treinamento para ler em voz alta, a diferença entre os dois grupos de crianças caiu: 8,34 a 8,53.
“O baixo nível de escolaridade dos pais não significa um impedimento para que eles promovam o desenvolvimento verbal de seus filhos, desde que tenham acesso a livros e técnicas adequadas de leitura interativa", disse à revista Veja João Batista, um dos pesquisadores envolvidos no projeto.
 

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